Agora deixo passar, aos poucos e poucos, os dias, que me ajudam a esbater o que com tanta perseverança mantive presente até hoje. Existe, de certo, um lugar onde guardamos todas as recordações carinhosamente ordenadas, de forma a que possam ser rebuscadas quando assim o entendemos, as minhas devem ter arranjado um sitio algures para se esconderem, porque não tenho feito qualquer tentativa para as manter seguras e intactas, como estão neste momento (referindo me só a algumas). É aqui que o mal reside, ora se são recordações, porque é que as desarrumamos? Porque é que por força queremos viver delas, e fazer delas o presente? Eu sou perita nestas operações, e em silêncio vivo delas, vivo daquilo que já vivi, dos cheiros, dos sítios, mas em silêncio, porque se me atrevo a passar o passado cá para fora, arrisco me a ficar presa a ele (mais uma vez) ...
Admito que tenha feito o esforço, por algum tempo, para que pequenas lembranças permanecessem acesas e acessíveis, mas neste momento deixei de o fazer, simplesmente arrasto me no tempo e não tenho necessidade de me lembrar de ti (ou pelo menos contrario essa necessidade, o que já é alguma coisa!).
Agora ando numa tentativa de me deixar levar, não insisto no que já não vale a pena, contrario as recordações (pelo menos algumas) e insisto para que permaneçam lá no sitio delas, quietinhas sem fazerem muito barulho, que assim é que elas estão bem e deixo me andar ao sabor das coisas que aparecem e que hão-de aparecer...